TEXTO DE FELIPE ARARIPE, REPÓRTER ESPECIAL DE PLURALE
DE BENTO GONLÇAVES, RS
FOTOS DE FELIPE ARARIPE
Entre os dias 20 e 22 de maio, a cidade de Bento Gonçalves (RS) sediou a décima edição da Fiema Brasil, feira voltada ao meio ambiente e à sustentabilidade empresarial na Região Sul. O evento, realizado no Parque de Eventos da cidade, reuniu cerca de 150 expositores, mais de 70 palestrantes e consolidou seu espaço como um dos principais encontros de negócios com foco em práticas ESG fora do eixo Rio-São Paulo.
Com um olhar mais maduro e voltado à gestão estratégica, a feira teve como destaque o Meeting Empresarial, que trouxe executivos de peso para compartilhar trajetórias, desafios e soluções aplicadas à sustentabilidade nas empresas do Sul. Os debates evidenciaram como companhias da região têm incorporado os pilares ESG aos seus modelos de negócios.
Na abertura do evento, Daniel Martin Ely, vice-presidente da Randoncorp e COO da Rands, plataforma digital e financeira do grupo, detalhou a origem e o crescimento da nova frente de negócios. “Quando a gente começa a ouvir o cliente, entender qual é a dor do cliente, você começa a ver uma oportunidade em serviços e soluções financeiras ou digitais, nós hoje já temos mais de 1.200 pessoas já atrás dessa plataforma. A Rands hoje cresce 50% ao ano, uma plataforma de serviço dentro de um ecossistema industrial”, afirmou. Segundo Ely, a Rands já representa 6% da receita da Randoncorp, com mais de 40 soluções digitais e financeiras. Ele reforçou a importância de uma postura proativa diante das demandas do consumidor: “Toda indústria um dia também será uma empresa de serviços, quando você põe o cliente no centro, muda a lógica. Não adianta ouvir o cliente e não ter coragem de fazer aquilo que ele disse”.
Daniel Martin Ely, Vice-Presidente Executivo da Randoncorp e COO da Rands
O protagonismo feminino também teve espaço de destaque na Fiema. Um dia inteiro de foi dedicado a mulheres líderes em grandes corporações. Entre as participantes, Suelen Joner, head de sustentabilidade e D&I do grupo Azzas 2154, fruto da fusão entre Arezzo&Co e Grupo Soma, falou sobre o compromisso ambiental do maior grupo de moda da América Latina, que reúne 27 marcas, como Reserva, Farm, Animale, Schutz. “Um dos grandes pilares de geração de valor do grupo Azzas é o pilar da sustentabilidade. A sustentabilidade vem de forma transversal para gerar esse valor para nossos stakeholders e nossos clientes através dos nossos produtos”, disse Suelen.
Suelen Joner, head de sustentabilidade e D&I da Azzas 2154
Além do viés sustentável, Suelen enfatizou a inclusão como um dos pilares da atuação do grupo, exibindo a campanha do Dia dos Namorados da marca Reserva, com o clássico “Mania de Você” de Rita Lee sendo interpretado em libras, abordando a universalidade que o amor tem: “A Azzas é uma empresa de moda, então, nós temos um compromisso de representatividade de todos os públicos dentro do nosso negócio, porque nossos clientes são feitos da diversidade brasileira.”
Suelen Joner, head de sustentabilidade e D&I da Azzas 2154
O grupo Azzas integra a carteira ISE da B3, participa do movimento Elas Lideram, do Pacto Global da ONU, voltado a alcançar 50% de mulheres em cargos de gestão e possui a certificação internacional Empresa B.
Outra representante da indústria da moda, Viviane Cecilia Lunelli, presidente da catarinense Lunelli, destacou a integração da sustentabilidade ao modelo de negócios da empresa. A marca, que adota um modelo EESG, consegue impactar diretamente nove dos 17 ODS. “A Lunelli tem esse olhar da moda ter toda essa tendência de sustentabilidade, de ser tradutora simultânea do comportamento do consumidor, mas nosso desafio é que consiga incorporar tudo isso dentro de nossos produtos”, disse Viviane.
Viviane Lunelli, presidente da Lunelli
A Lunelli esteve presente nas últimas edições da COP e investe em economia circular, com destaque para a reciclagem de 2.300 toneladas de resíduos têxteis que são transformados em novas peças. “Existe muita discussão sobre o quanto o homem de fato impacta nas mudanças climáticas, a gente pode ser tanto parte do problema, como parte da solução, essa a consciência que a gente precisa ter”, afirmou a executiva.
Representando a indústria de embalagens, a jovem Paula Bragagnolo, analista de P&D da Galvanotek e fundadora da PGB, trouxe um exemplo de inovação antes do acontecimento. A empresa desenvolveu, há mais de uma década, tecnologia que permite a produção com 80% de plástico reciclado. “Há 11 anos atrás, estávamos olhando para o mercado, olhando para o público e entendendo como de várias formas a gente poderia agregar a economia circular dentro do nosso processo, antes mesmo de ser uma pauta tão globalizada, que já era na verdade, tendo essa visão para nosso futuro. A gente precisa entender qual o desejo de sustentabilidade que o consumidor procura e tentar botar em prática a tempo.”
Paula Bragagnolo, analista de P&D da Galvanotek e fundadora da PGB
No Energiplast, evento paralelo, o foco se voltou à um case de transição energética. Rodrigo Bombonatto Assumpção, superintendente de Engenharia e Energia do grupo Orizon Valorização de Resíduos, apresentou a novidade da primeira usina de waste-to-energy da América Latina, que está sendo construída em Barueri (SP) e deve entrar em operação em 2027. O projeto terá capacidade para processar 300 mil toneladas de resíduos sólidos por ano. Quando as obras começaram, a empresa adotou o sistema para fomentar a coleta seletiva, impulsionando a economia circular: “A gente está destinando corretamente, reduzindo o nível de emissões de gases de efeito estufa, aumento de aproveitamento energético, gestão de energia renovável, além de trazer uma discussão para a sociedade de como lidamos com este lixo. Não adianta falarmos do melhor processo se o cidadão não separar seu lixo no dia a dia.”
Rodrigo Bombonatto Assumpção, superintendente de Engenharia e Energia do grupo Orizon Valorização de Resíduos
Marisa Cislaghi, gerente regional do Sicoob São Miguel e diretora do Meeting Empresarial, destacou o tom do olhar para o ESG do evento: “A realização da FIEMA e do Meeting Empresarial tem como objetivo reunir a cadeia produtiva ambiental através das pessoas, olhar com responsabilidade para o ESG, para os ODS e para a perenidade das nossas organizações”.
Já Neri Basso, presidente da Fundação Proamb — responsável pela feira — compartilhou o aprendizado que levará da edição: “Caixa, caixa, caixa e gente, gente, gente. Não tendo caixa as empresas quebram exatamente por falta de fluxo de caixa, quando a gente fala em gente, não adianta ter tecnologia, se não tiver gente com competência.”
A décima edição teve público superior a 8 mil pessoas, 150 expositores, três dias de programação e mais de 70 palestrantes. Com o sucesso, a organização já confirmou a próxima, a 11ª Fiema Brasil ocorrerá nos dias 18, 19 e 20 de maio de 2027, novamente em Bento Gonçalves.
*O repórter viajou a convite da Fiema Brasil